Guerreiro das Sombras

24/01/2016 15:43

  A temperatura rapidamente estava baixando e o sentinela da tribo foi o primeiro a divisar os vultos dos homens que voltavam da caçada. O vigia Norberto nunca desprendia os olhos da pequena trilha que antecedia a chegada as terras de sua tribo. Era o maior e mais corajoso vigia que a tribo já tivera, não pretendia deixar esta confiança que tinha adquirido junto a sua tribo, com muito esforço e dedicação, ser abalada por qualquer forasteiro aventureiro que aparecesse.    Por isso, mantinha seus olhos semicerrados para enxergar melhor durante a noite, mas não piscava, com medo de deixar algo passar. Afinal, gostava da devoção e carinho que recebia dos membros de sua tribo, sabia sua importância na segurança de todos dentro do acampamento.  Por isso quando divisou o primeiro homem aproximando-se, ficou mais um pouco onde estava, para ter certeza que eram mesmo os caçadores da tribo, voltando de mais um dia de caça. Não queria ser surpreendido por decisões precipitadas. Com a escuridão da noite, não era fácil distinguir os vultos, que pareciam muito carregados, alguns quase andando de quatro,  curvados devido ao peso que carregavam e também o esforço de subir a pequena colina. Parecem que tinham conseguido abater um enorme animal, pensou Norberto, teriam carne para a janta.   Deixou-os aproximarem-se mais alguns passos para ter certeza e mesmo na penumbra pode reconheceu Aníbal, jovem e valoroso caçador. Espantou-se ao perceber que Aníbal não trazia uma caça em suas costas, mas o corpo de um dos caçadores, aparentemente morto. Norberto abandonou seu posto de observação e desceu a pequena colina em disparada, alcançando em poucos minutos o grupo exausto de caçadores.   Ao ver as manchas de sangue por toda parte do corpo de Aníbal, Norberto estremeceu. Não era possível que os deuses os haviam esquecido, mais um dos caçadores de sua tribo estava morto. Ao chegar próximo de Norberto, Aníbal jogou sua carga humana ao chão, dizendo:

– O moleque é louco, mas tem muita coragem!  – somente então Norberto reconheceu, no chão, em meio a poeira da estrada, coberto de sangue, com um grande buraco nas costas, jazia Jacó seu filho primogênito, inconsciente.   

    Imediatamente pegou seu filho no colo, esquecendo-se de tudo, correu a procura do xamã, somente ele tinha o poder e conhecia os espíritos, que poderiam curar o seu filho, de mais uma manifestação dos espíritos maus, que habitavam a floresta. Tinha certeza que um espírito mal atacou seu filho na floresta, afinal, tudo de ruim que acontece em nossa vida, sempre é causada por espíritos maléficos, pensou Norberto. 

 
Fonte: Livro Guerreiro das Sombras